domingo, 18 de janeiro de 2009

CONSUMISMO



A nossa sociedade pode ser definida como a sociedade do consumo. Parece que a felicidade só existe onde existe a possibilidade de consumir. E não é ao consumo básico a que estou me referindo. É o consumo descontrolado, na sua vertende mais perigosa que é aquela em que o inívíduo age como um viviado não tendo nenhum controle sobre seus impulsos. É o consumo compulsivo - a doença da modernidade. Se alguém está fora da sociedade do consumo é um marginal - está à margem dela. Portanto é um ser "menor". Não é plenamente cidadão, posto não poder sequer olhar às vitrines. O homem nessa sociedade vale pelo que tem. E não só pelo que tem, mas pela qualidade do que tem. Ou seja, já não vale o "carro", por exemplo, pelo simples fato de transportar pessoas. Não! Ele vale pelo status que oferece ao seu possuidor. Quanto "maior" e/ou "melhor" (entenda-se isso relativamente), tanto "maior" e/ou "melhor" será seu dono. Essa variante serve para todos os bens mensuráveis monetariamente. É como se voltássemos ao tempo das cavernas: Tanto maior e melhor será o guerreiro aquele que voltar pra caverna com a maior e/ou melhor caça. Os "bens", necessários à sobrevivência são agora medidas de posicionamento no estrato social. O consumo compulsivo, na realidade, é uma loucura. O homem está louco e já não sabe definir qual a sua verdadeira identidade.





COMPRAS


Hoje eu saí
Fui comprar roupa
E guarda-roupa
E cueca
E sapato
E meia.
Não esqueci
Das camisas
De gola
E de malha,
Camiseta
E calção.
Comprei tudo
À prestação!
Foi de cheque.
Pra minha vó
Dei um leque
Que foi tão caro
Foi pros outros
Não foi pra mim.
Dei um cheque
Só pré-datado
Pouco fundo
Já esgotado
O meu limite
Pelo banco
Que vive olhando
A minha conta
E o meu saldo
Já no vermelho
Não têm espelho
Pra olhar pra si
Que a surrupiar
Do meu extrato
Pelo contrato
Sua tarifa
Como uma rifa
E cobra muito
Pelo talão.
Das minhas compras
Eu me lembrei
Vão me atolar
Precipitei
Sou brasileiro
Que ganha pouco
E como louco
Gasta o que não tem

Num cinturão
Também comprado
Com meu trocado
E sem pagar
Vou me enforcar.

Melhor seria
Se bem pensado
Lá num cofrinho
Daqueles de porquinho
O meu trocado
Tivesse guardado
E um futuro
Tão bem distante
Viver folgado
Com os rendimentos
De juros às pampas
E ficar rico
E nem olhar
Pros preços das coisas
Que coisa de pobre
Olhar o preço das coisas!
E conferir
E comparar
Depois sacar
Da minha poupança
Meus dividendos
Do capital
Encher a pança
Gastar de novo
Com Sonrisal

E o que sobrar
No banco guardar
Pra render juros
E ficar rico
E endoidecer
Com meio por cento
De todo mês
Que os meus trocados
Se vão render
Pra quê comprar?
A tal da roupa
E o guarda-roupa
Pra quê guardar
Minha cueca
Sapato e tênis
Meia e camisa
Pois é melhor
Guardar dinheiro
E ficar louco
Rasgar dinheiro
Pra quê guardar?
Vá que eu não pague
Cheque sem fundo
Então meu mundo
Vai desabar
E vou morrer
Tão triste e pobre
Eu que era nobre
Hoje estou de porre
Pois consegui
Comprar
Coisas que vão
Como o cinturão
Me enforcar
De dívidas!

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